ÍDOLOS DO BRASILEIRÃO #10: Castilho, Fluminense.



"Atrevo a dizê-lo: foi o maior homem em campo. No primeiro minuto da partida, o Botafogo arrombou as defesas tricolores. E só não houve o tento porque Castilho teve uma saída de gol digna de Leonardo da Vinci. Mais sensacional, porém, foi o pênalti em Garrincha. Quando o juiz apitou, eu vi, ali, a falência da vitória. Ora, um pênalti é um problema de inteligência. Venceria o que, naquele instante, fosse o mais inteligente. No meio de um silêncio ensurdecedor, Didi atira e Castilho defende. Defende porque estava num momento de inteligência, e Didi, não. Que foi essa inspiração senão um momento de inteligência?". Castilho foi, sem dúvidas, um dos personagens favoritos de Nelson Rodrigues, se não o favorito.



O gigante de 1,81 metro - sim, era alto para a época -, era um pegador de pênaltis nato, e marcado pelo seu apoteótico golpe de vista, não desperdiçava pulos quando a trajetória da bola leva-a para fora do gol. Assim como Alfredo Gottardi, não era um goleiro espalhafatoso, não era dono de saltos impressionantes, mas nasceu com o dom de colocar-se fantasticamente bem, sempre bem posicionado, o que lhe rendeu o apelido de "Leiteria", atribuído pelos adversários, que creditavam à sorte os milagres do Santo. O principal motivador da alcunha foi o fato de que Castilho era constantemente salvo pelas traves.

Castilho tornou-se titular do Fluminense em 1948, jogou 702 jogos e sofreu 808 gols. Pelo tricolor, foi campeão carioca em 1951, 1959 e 1964, e do Rio-São Paulo em 1957 e 1960. Sua maior glória com a camisa das laranjeiras foi a Copa Rio de 1952, que reunia equipes de todo o planeta, uma espécie de mundialito. Pela seleção brasileiro conquistou as Copas do Mundo de 1958 e 1962, como reserva, foi titular na Copa de 1954, e em 50, sentou no banco para assistir ao Maracanazzo.

O episódio mais marcante do arqueiro com a camisa fluminense aconteceu há 56 anos. Castilho havia quebrado o dedo durante treinamentos com a seleção brasileira para a disputa das eliminatórias do Mundial de 1958, estaria fora do restante da temporada, pela canarinha e pelo tricolor, 1957 havia chegado ao fim para Castilho. Não, claro que não. Castilho precisava jogar, e telefonou para o seu amigo, Dr. Newton Paes Barreto, sabendo que o médico do Fluminense jamais faria procedimento tão louco, pediu para que o Dr. Paes amputasse seu dedo, na tentativa de voltar aos campos mais rápido. E foi o que aconteceu. Duas semanas depois, o arqueiro já estava dentro de campo, fechando a meta tricolor, como sempre fez. Castilho conta: "Antes da anestesia, ainda pude ouvir o Paes dizendo 'Castilho, você é louco', apaguei". Sim, era louco. Um louco apaixonado pelo Fluminense.

Tamanha era a loucura, que no dia 2 de fevereiro de 1987, Castilho, então treinador da Arábia Saudita, tomou a decisão mais extrema de sua vida: suicidar-se. O motivo ninguém nunca descobriu, atirou-se do sétimo andar de um prédio no Rio de Janeiro, o prédio de sua ex-mulher. Muitos motivos foram levantados acerca da morte, que é um mistério até hoje, bipolaridade, uma doença grave, um tumor irremovível, sofrimento causado pelo rompimento com a esposa? Ninguém sabe. Ninguém nunca saberá.

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