ÍDOLOS DO BRASILEIRÃO #9: Zico, Flamengo.


23 de novembro de 1981. Era jogo do Flamengo, mas não era no Maracanã. O Flamengo sem Maracanã não é Flamengo, e o Maracanã sem Flamengo não é Maracanã. Dessa vez o rubro-negro estava a milhares de quilômetros da sua casa, e teria que provar ao mundo todo que podia, sim, fazer história longe da geral do Maraca. Era a final da Taça Libertadores da América, a primeira partida, no Rio de Janeiro, vencida pelo Flamengo por 2-1, no Chile, triunfo do Cobreloa, 1-0. Haveria o jogo três, no Estádio Centenário, em Montevidéu, para decidir o campeão e representante sul-americano no campeonato Intercontinental.

Tempos sangrentos em Santiago, a ditadura militar de Augusto Pinochet se fortalecia, no Brasil, era o contrário, caminhávamos para a reinstauração da democracia. "Nos sentíamos dentro de uma prisão" conta Zico, o Flamengo vencia por 1-0, gol do Galinho, o resultado daria o título ao rubro-negro, mas o Mengo queria mais, Nunes cavou uma falta da entrada da área, a posição perfeita. Zico tomou distância, todos sabiam que seria gol, dali, Zico não errava uma. Quando iniciou a caminhada, foi como se a música de Jorge Ben Jor tomasse conta do Estádio Centenário.

É falta da entrada da área
Adivinha quem vai bater
É o camisa dez da Gávea
É o camisa dez da Gávea.

Zico partiu, seu pé direito, infalível, beijou a menina, que num toque de categoria, foi morrer no ângulo esquerdo do goleiro do Cobreloa. 2-0, o Flamengo era campeão da América.

Nasceu em Quintino Bocaiuva, no dia 3 de março de 1953. Filho do único padeiro português que escolheu o Flamengo ao Vasco como paixão maior. Ia ao Maracanã com o pai e irmãos, e conta: "No Maraca, na arquibancada, sempre atrás das balizas. E via a rede balançando. E ouvia. Era música para os meus ouvidos de menino". Zico teve três irmãos homens, dois deles - Antunes e Edu - tornaram-se jogadores de futebol, mas, talvez injustamente, não obtiveram o mesmo reconhecimento do irmão caçula. Aos 12 anos, Zico já traía multidões para vê-lo jogar no futebol de salão do time de Quintino. Celso Garcia, radialista, certa vez viu o garoto franzino jogar, entusiasmou-se, e antes mesmo do jogo acabar, puxou o menino pelo braço e seguiu com ele até a casa de seus pais. Levou-o ao Flamengo.

Estreou no profissional em 1971, tornou-se titular absoluto em 1974, lançado como aposta, nunca mais saiu do time, recebeu a camisa dez, símbolo de seu maior ídolo, Dida, que fez história no Flamengo durante os anos 50 e 60. Entretanto, o ápice de sua glória vestindo as cores rubro-negras teve início em 1978, foi tricampeão carioca, e conquistou o inédito título brasileiro em 1980, repetiu a dose em 82, 83 e 87. Em 1981, conquistou as maiores glórias da história rubro-negra, os título da Libertadores e o título Mundial, conquistado em vitória maiúscula sobre o Liverpool, vitória flamenguista por 3-0, Zico foi eleito o melhor jogador da competição.

No segundo semestre de 1983, transferiu-se para a Udinese, da Itália, em sua despedida, a música do Maraca foi outra, dessa vez, de Moraes Moreira.

E agora como é que eu fico
nas tardes de domingo
Sem Zico no Maracanã
Agora como é que eu me vingo
de toda derrota da vida
Se a cada gol do Flamengo
Eu me sentia um vencedor.

Em Udine, marcou 57 gols, sendo 17 de falta, e um dos mais marcantes, foi em sua estréia, contra o Milan em pleno San Siro, Zico emendou uma meia-bicicleta, calando toda a torcida milanesa. Voltou ao Flamengo em 1985. Pela seleção brasileira, não obteve o mesmo brilho, muito prejudicado pelas lesões, em 1978, participou do jogo que não terminou, contra a Argentina, onde o Brasil marcou um gol ao apagar das luzes, mas o árbitro recusou a validá-lo, alegando que já tinha encerrado a partida. Em 1982, foi peça importantíssima do time que foi dono do futebol mais bonito da história do esporte bretão, mas que fracassou na Copa, eliminados pela Itália, no empate por 3-3, com três gols de Paolo Rossi. Em 1986, nas oitavas-de-final, contra a França, perdeu um pênalti no tempo regulamentar, que foi decisivo na eliminação brasileira.

Despediu-se do futebol brasileiro em 1989, sua última partida, um Fla-Flu, 5-0 para o Flamengo, Zico não poupou dribles e marcou um golaço: "Era tudo o que eu queria. Terminar com um gol e justo do jeito que eu mais gosto: de falta".

Deixo as palavras de Armando Nogueira, escritas no dia posterior à despedida de Zico: "Celebremos, querido torcedor, a última noite do maior artilheiro da história do Maracanã. Será uma despedida de apertar o coração. Se te der vontade de chorar, chora. Chora sem procurar esconder a pureza da tua emoção. Basta uma lágrima de amor para imortalizar o futebol de um supercraque.

Cantemos, Maracanã, teu filho ilustre, relembrando em comunhão os dribles mais vistosos, os passes mais ditosos, os gols mais luminosos desse fidalgo dos estádios que tem uma vida cheia de multidões.

Louvemos o poeta Zico que jogava futebol como se a bola fosse uma rosa entreaberta a seus pés."

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