ÍDOLOS DO BRASILEIRÃO #7: Lela, Coritiba.


"Eu vou bater", diz Lela ao treinador Ênio Andrade, tocou no peito de Marildo, que seria o encarregado da cobrança e caminhou em direção a grande área, para receber a bola de Gilmar, goleiro do Bangu. Dizem que a quarta cobrança é a mais importante de uma disputa de pênaltis, se você erra, o quinto e decisivo batedor irá à bola com o coração a mil por hora, e se você acerta, a pressão cai-se toda sobre os ombros do adversário.

A disputa estava 4x3 para o Bangu, o Maraca com 91 mil pessoas, maioria esmagadora banguense, que foram prestigiar o clube com a melhor campanha do campeonato brasileiro de 1985, que era um timaço, e que tinha um craque em seu plantel, Ado, que ficaria marcado para o resto de sua vida após a final. Lela colocou a bola sobre o círculo da cal, tomou distância, o semblante focado, sentia raiva. Correu, passos tão brutais, só podia ser um canudo no meio do gol, foi o que pensou Gilmar, o craque enganou a todos, com categoria, deslocou o goleiro e chutou no canto esquerdo, o arqueiro alvirrubro nem se moveu.

Mais uma rodada de cobranças, Marinho e Vavá marcaram. Era a vez de Ado, talvez o melhor jogador do campeonato, atacante com classe de meia e que batia muito bem na bola, posicionou-se, as mãos à cintura, Rafael não tirava os olhos da bola, Ado correu, milésimos antes de tocar na redonda, notou que havia entregado o lado da cobrança para o goleiro do coxa, que já estava na trajetória da defesa, tentou mudar o lado, até conseguiu, mas era tarde demais, a bola foi para fora. Coube ao zagueiro Gomes decidir o campeonato brasileiro de 85, e ele não desperdiçaria, para delírio da torcida coxa branca, o Coritiba era campeão brasileiro pela primeira e única vez em sua história. Ado desesperou-se, mas essa é uma história para outro dia, essa é uma história sobre Lela.

Lela legou ao futebol brasileiro a objetividade, que junto com a sua careta, foi a sua principal marca, a forma simples e efetiva de jogar futebol. O "Mentira" é um dos maiores jogadores que já pisaram no nosso país. Driblava com facilidade extrema, tinha uma ótima qualidade no passe e era dono de um potente chute, além de uma qualidade excepcional no posicionamento, o que lhe ajudou a marca todos os seus gols no Alto da Glória. Tornou-se o melhor ponta-direita da história do Paraná.

Deixando o Coritiba em 1988, ainda passou por Sampaio Corrêa-MA, Noroeste, Central-PE, Lençoense-SP e Palmares-RO, defendeu a seleção brasileira em algumas oportunidades entre 1980 e 85. Lela continua vivo no futebol, seus dois filhos, Alecsandro e Richarlyson jogam juntos no Atlético-MG, é certo que não têm o mesmo futebol, nem atingiram o mesmo sucesso do pai, mas são jogadores de bom nível. Alecsandro se parece mais com o pai, preferiu o ataque, viver de gols, e tem uma Copa do Brasil e uma Libertadores no currículo, já o polivalente Richarlyson joga em várias posições, mas preferiu jogar defensivamente, obteve mais sucesso jogando como volante, no São Paulo, onde foi tri-campeão brasileiro de 2006-08, além do Mundial de Clubes da FIFA de 2005. Tão vitoriosos quanto o pai.

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