ÍDOLOS DO BRASILEIRÃO #2: Caju, Atlético-PR


"...Joãozinho recebe a redonda no ataque, o Coritiba vai todo pra cima, é a última chance do coxa branca tirar o título paranaense de 1936 das mãos do Atlético!", berrava Márcio Feliciano, locutor da Difusora do Paraná, uma das mais antigas emissoras de rádio do Brasil. O Atlético era o líder isolado do campeonato, e se segurasse o empate por 0x0, seria campeão com três rodadas de antecedência.

O Coritiba dominou o jogo inteiro, eram dois timaços, lotados de craques: Zinder, Cecatto, Joãozinho, Carneirinho... mas no meio de todos, um se destacava. Craque diferente. Não tornou-se lenda marcando gols, fez seu nome jogando debaixo das traves. Alfredo Gottardi, o incomparável Caju, a majestade do arco, o título estava nas mãos dele.

Joãozinho carregou nas costas o Coritiba ao ataque por uma última vez naquela partida, estava exausto. Viu Zanetti a sua frente e respirou. Zanetti era, de longe, o melhor zagueiro do Paraná em 36. Mas Joãozinho respirou, e cortou o beque com um drible seco. As gotas de suor corriam o rosto de Caju. Sua visão falhava, mas ele sabia que só dependia dele. Parecia que Joãozinho tinha ido do meio-de-campo à pequena área em menos de um segundo e o atacante do coxa estava prestes a marcar. A infalível perna direita já armada. Era gol! Era! Como um raio, Caju voou na bola e impediu que a redonda fosse morrer no ângulo esquerdo. Fim de jogo! O Atlético era o grande campeão de 36.

Alfredo Gottardi nasceu no dia 14 de julho de 1915 em Curitiba, desde moleque era apaixonado pela bola, sempre soube o que seria, jogador do Clube Atlético Paranaense. Caju era irmão de Alberto Gottardi, ex-defensor da meta rubro-negra, estreou pelo Furacão em 1933, e tornou-se o primeiro goleiro paranaense a defender a Seleção Brasileira.

Alfredo nunca aceitou assinar um contrato profissional com seu clube do coração, por teimosia, perdeu algumas temporadas na equipe principal, sendo forçado a jogar entre os amadores, chegou até a ser campeão em 1944, jogando como centro-avante. Caju não era um goleiro espalhafatoso, era reservado, até no seu estilo de jogar, não era marcado pelas defesas impressionantes em saltos espetaculares, tornou-se o maior goleiro da história do Atlético por saber se posicionar perfeitamente bem, por estar sempre onde o adversário chutava, saía extremamente bem do gol, e era dono de uma impulsão impressionante, existem fotos de Gottardi com a cintura na altura da cabeça dos zagueiros.

Disputou o sulamericano do Uruguai, convocado por Ademar Pimenta, foi desacreditado, todo o Brasil pedia Jurandir, do São Paulo, na seleção. Mas Caju não decepcionou, e foi eleito pelos jornalistas uruguaios o melhor goleiro da competição. No Uruguai recebeu o apelido de A Majestade do Arco.

Defendeu o Clube Atlético Paranaense por dezessete anos, sendo campeão paranaense seis vezes. Deixou o planeta Terra no dia 24 de abril de 2001, sereno como sempre foi, Alfredo morreu dormindo, levado por causas naturais, aos 85 anos de idade. Ganhou de Deus uma vaga para jogar debaixo das traves do time do céu.

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