'Eliza foi enforcada e teve o corpo jogado para cães', afirma Bruno.
O goleiro Bruno disse, em depoimento no Fórum de Contagem,
em Minas Gerais, nesta quarta-feira, que o amigo Luiz Henrique Romão, o
Macarrão, ajudou a matar a modelo Eliza Samudio em 2010. Segundo o réu, acusado
de ser o mandante do crime, Eliza foi enforcada e em seguida, ela teve o corpo
esquartejado e jogado para os cachorros. Bruno disse que Jorge Luiz Rosa, o
primo que era menor na época, foi quem revelou a informação para ele:
- Fiquei desesperado uma hora e meia, chorei muito.
"Macarrão o que você fez?", eu perguntei. Ele falou que resolveu o
problema porque a menina estava "demais". Ele disse que ela estava
incomodando demais, atrapalhando seus projetos, seus planos. Naquele momento
senti medo.
Segundo o goleiro, Jorge contou que Macarrão deixou Eliza
perto do Estádio do Mineirão, parou para conversar com uma pessoa pelo
telefone. Nesse momento, uma moto apareceu. Bruno disse que o carro seguiu e
ela foi entregue numa casa para um homem conhecido como Neném.
- Lá, ele perguntou se ela era usuária de drogas e cheirou a
mão dela em seguida. Nessa hora, o homem pediu para o Macarrão amarrar a mão
dela, e ela foi enforcada. Depois, Macarrão chutou Eliza, que depois teve o
corpo esquartejado e jogado para os cachorros.
Questionado diretamente se sabia ou não se Eliza seria
morta, Bruno declarou que aceitou e, pela primeira vez, envolveu o ex-policial
Marcos Aparecido dos Santos, o Bola.
- Não sabia, não mandei, mas aceitei. Mandar eu jamais
mandei. O Macarrão falou que contratou o Bola. Então, eu aceitei. Meu
compromisso com ela foi pagar os R$ 30 mil - disse.
Após as perguntas da juíza, o promotor Henry Vasconcelos
iniciou o interrogatório, masa defesa de Bruno já havia dito que o réu não
responderia às perguntas do MP. Bruno seguiu em silêncio.
Bruno afirma que se sente culpado pela morte de Eliza
No terceiro dia de julgamento do caso Bruno, realizado no
Fórum de Contagem, em Minas Gerais, desde segunda-feira, o goleiro negou ser o
mandante da morte da modelo Eliza Samudio, mas declarou que se sentia culpado.
- Como mandante dos fatos, não, eu nego. Mas de certa forma,
me sinto culpado - disse ele, emendando que desejava falar mais.
Bruno, que fez a declaração ao responder a uma pergunta da
juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, começou a chorar quando falou que transou
só uma vez com Eliza. Em seguida, o atleta disse que seu sonho era ter um
menino.
Sobre a amizade com Luiz Henrique Romão, o Macarrão, Bruno
afirmou que amigo administrava seus negócios, mas queria tomar conta de tudo. O
goleiro afirmou que, após uma série de brigas, se afastou de Eliza. Foi nesta
mesma época que Macarrão resolveu ir para o Rio, e acabou se aproximando da
modelo.
- Ele arcava com as despesas, administrava meu dinheiro,
minhas contas bancárias. Ele tinha as senhas das minhas contas. Eu pedia
dinheiro para o Macarrão para sair ou fazer festas. Nossa relação era de
amizade forte, quase irmãos. Quando parei de conversar com Eliza, ele
(Macarrão) passou a conviver com ela - disse o goleiro.
Bruno contou que, na sua casa no Recreio dos Bandeirantes,
Zona Oeste do Rio, chegou a morar com Ingrid Calheiros, sua atual mulher, por
quatro meses. Mas ela teria saído por causa da presença constante de Macarrão.
- Ela saiu porque estava perdendo a liberdade naquela casa -
disse Bruno.
Na noite em que Bruno tentava se reconciliar com Ingrid,
Macarrão, segundo o goleiro, ligou insistentemente para o celular dos dois.
Segundo o réu, ele dizia que precisava do amigo para "resolver um
problema".
Macarrão encontrou com Bruno no hotel onde estava concentrado
com o Flamengo, que se preparava para uma partida contra o Goiás. Lá, ele disse
que o problema era Eliza.
- Eu falei para ele, eu já estou respondendo processo, já
até paguei por isso, e você está me trazendo mais problemas - disse Bruno para
o amigo, que, no encontro, não teria dito que a mulher estava machucada.
Bruno disse que depois do jogo, passou na concessionária de
um amigo para pegar emprestado uma BMW, pois a sua havia sofrido um acidente.
Ao chegar em casa, encontrou Fernanda Gomes de Castro, a ex-namorada condenada
a cinco anos em regime semiaberto, com o filho Bruninho no colo, o que lhe
causou estranhamento. Na casa também estavam o primo Jorge Luiz Rosa, então
menor, e Macarrão. Bruno afirmou que não ficou surpreso com Fernanda, mas sim,
com o fato de ela estar segurando o Bruninho.
- Eu fiquei surpreso, o que está acontecendo, perguntei. Ela
disse que: "não sei de nada, estou aqui só para ajudar" - relatou o
goleiro.
Macarrão teria dito a Bruno que Eliza estava no andar de
cima. Segundo o goleiro, o amigo disse que Jorge teria espacando Eliza:
- Ela estava lá machucada, com hematomas no rosto e na
cabeça, mas não estava sangrando. Eu cheguei a bater no Jorge. Eu cheguei a dar
uma surra nela na frente da Eliza. Ela até falou para eu parar, que não
precisava daquilo. Perguntei para Eliza se ela gostaria de ir no médico, na
farmácia, se ela gostaria de alguma coisa.
Bruno disse que Eliza aceitou um remédio para dor de cabeça,
por isso, ele saiu, comprou e, quando voltou, ele mesmo fez o curativo na
cabeça dela. E que, depois disso, ele, Eliza e Macarrão conversaram.
- Nós tivemos uma conversa. Ela teria feito um acordo com
Macarrão de conseguir, pegar em mãos uma certa quantia em dinheiro, no valor de
R$ 50 mil. Naquele momento foi passado para mim. Eu falei que não tinha R$ 50
mil, eu tinha R$ 30 mil - contou Bruno
O goleiro contou que todos foram para o sítio Turmalina, em
Esmeraldas, em Minas Gerais, onde Eliza foi mantida em cárcere privado antes de
morrer. Segundo Bruno, Eliza foi para Minas contra a vontade dele.
- Fizemos duas paradas. Dei carona para um policial
rodoviário e nos seguimos viagem e chegamos num posto de gasolina desativado.
Nós tentamos entrar em contato com o caseiro, para saber se o sítio estava
sendo usado pela minha ex-mulher. Como não conseguimos contato, Macarrão seguiu
para um motel e fui com Fernanda para a casa da minha mãe (a avó que o criou)
em Belo Horizonte.
Os dois acabaram não entrando na casa, porque Dayanne
Rodrigues, a ex-mulher, estava lá. O goleiro decidiu, então, levar Fernanda
para conhecer "suas origens" em Ribeirão das Neves (MG). Bruno contou
que reencontrou Eliza no jogo do time 100%, que ele patrocinava na cidade na
época. Com a vítória do time, todos foram comemorar em um bar. Eliza foi levada
por Jorge e Macarrão até o local. Após a comemoração, Bruno voltou para o
sítio, onde estava parte do dinheiro combinado com Eliza.
Perguntado pela juíza se iria sacar o dinheiro na
segunda-feira, Bruno entrou em contradição. Primeiro, afirmou que tinha a
quantia em espécie em seu sítio em Esmeraldas, mas que já havia reservado o
valor para custear uma excursão do time 100% para o Rio. Por isso, não teria
passado o dinheiro para Eliza no mesmo dia que ela chegou ao sítio. Depois,
falou que Macarrão foi até o Rio, na segunda-feira de manhã, para entregar o
carro emprestado em que vieram para Minas, e também para sacar os tais R$ 30
mil. Viajaram juntos Eliza, Macarrão, Bruninho e Jorge Luiz.
Na volta para o sítio, Bruno disse que estranhou ao ver
Bruninho nas mãos de Macarrão.
- Perguntei: poxa, cadê Eliza, pela amor de Deus, o que
vocês fizeram com ela? Neste momento, o Macarrão falou assim: resolvi o
problema que tanto te atormentava. Naquele momento, peguei o Bruninho no colo e
entreguei para Dayanne porque precisava conversar com os meninos sobre o que
tinha acontecido.
Bruno disse que, segundo Jorge, Macarrão foi até uma casa em
Vespasiano e lá tinha entregado Eliza para um homem chamado Neném. A juíza
perguntou, em seguida, se o indivíduo que executou Eliza tinha o apelido de
"Bola". Bruno disse apenas que o Jorge o chamou de "Neném"
e que somente o conheceu na Penitenciária Nelson Hungria, depois que ambos já
estavam presos.
Justiça nega pedido de habeas corpus ao goleiro
O terceiro dia de julgamento do caso Bruno começou com a
leitura das acusações contra o goleiro. Enquanto a juíza Marixa Fabiane Lopes
Rodrigues, o ex-goleiro do Flamengo se manteve cabisbaixo. A defesa iniciou os
trabalhos da tarde desta quarta-feira declarando que o réu não ia responder as
perguntas do promotor Henry Wagner.
- O silêncio dele é uma determinação - afirmou o
criminalista Lúcio Adolfo.
Também na tarde desta quarta-feira, o Tribunal de Justiça de
Minas Gerais informou que os desembargadores negaram o pedido de habeas corpus
ao goleiro Bruno Fernandes. A decisão foi unânime entre os magistrados da 4ª
Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. O julgamento do
ex-atleta e de sua ex-mulher dele, Dayanne Rodrigues, foi retomando na tarde
desta quarta-feira, com 10 minutos de atraso. No terceiro dia de júri, Bruno
chegou ao Fórum de Contagem, em Minas Gerais, às 12h.
Ele deixou a
Penitenciária Nelson Hungria por volta de 11h30m.
O depoimento do atleta era o mais aguardado, já que ele tem
a oportunidade de quebrar o silêncio e dar sua versão sobre a morte de Eliza
Samudio. O ex-goleiro do Flamengo é acusado de ser o mandante do assassinato da
modelo, ex-amante do atleta, em junho de 2010. Ele responde por homicídio
triplamente qualificado, ocultação de cadáver e sequestro e cárcere privado de
Bruninho, filho da jovem com ele.
Dayanne é acusada de sequestro e cárcere
privado da criança. Ela foi ouvida por cerca de quatro horas nesta terça-feira.
A expectativa é de que o interrogatório de Bruno seja longo
e tenso. Um dos advogados do atleta, Tiago Lenoir, disse que o depoimento será
“bombástico”. Se tudo ocorrer conforme planejado pelo Tribunal de Justiça,
quinta-feira a juíza Marixa Fabiane deve bater o martelo após o debate da
defesa e acusação. Ministério Público (MP) e defesa prometem um duelo de nove
horas no último dia do julgamento. A tendência é que Bruno faça uma confissão
parcial para evitar uma pena de mais de 40 anos.
Segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), não
houve sessão na parte da manhã para que os jurados possam descansar, já que,
nesta terça-feira, Dayanne foi ouvida até as 22h30m. O momento mais revelador
do depoimento da ex-mulher do atleta foi quando ela envolveu o policial
aposentado José Lauriano de Assis Filho, o Zezé, na trama do crime. Dayanne
admitiu ter recebido orientação de Macarrão para não atender nenhum policial,
com exceção de Zezé, alvo de uma nova investigação da polícia do Ministério
Público (MP). Foi Zezé quem teria apresentado o ex-policial Marcos Aparecido
dos Santos, o Bola, para Macarrão, até então o braço direito de Bruno.
Fonte: O Globo